quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Por que o Rio foi na contramão do que dizem os especialistas?


As cidades que sediaram as Olimpiadas usaram a oportunidade para investir em áreas degradadas, mas a cidade do Rio de Janeiro optou em gastar com a Barra da Tijuca, em franca expansão imobiliária, grande parte dos recursos. O que dizem os especialistas?

Só querem privilegiar o mercado. Veja o que ocorre aqui no Rio com as Olimpíadas. Boa parte dos investimentos foi para a Barra, onde já existe infraestrutura básica. Por que não privilegiaram as áreas degradadas mais próximas ao Centro?

Luiz Fernando Janot, conselheiro federal IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil)

 Fonte: http://oglobo.globo.com/rio/luiz-fernando-janot-critica-modelos-de-desenvolvimento-sem-integracao-entre-bairros-16313860



“O Rio deu as costas por muito tempo para a Zona Norte, que é a área mais consolidada da cidade. As pessoas estão indo embora de Bonsucesso. Não dá para construir habitação social em algumas áreas da Zona Oeste, onde não há nem cidade, e deixar a Zona Norte se esvaziar”

Clarisse Linke - vice diretora do ITDP Brasil


"O professor adverte que o poder público precisa investir para melhorar os índices sociais do subúrbio carioca, notadamente a região administrativa de Ramos, na Zona Norte, à qual pertence Bonsucesso.

É fundamental para o Rio de Janeiro que a qualidade de vida avance em bairros do subúrbio, e não apenas onde estão os formadores de opinião. Muitas áreas sofrem com décadas de degradação. Qualquer urbanista hoje considera que a cidade deve se expandir para as áreas mais carentes, e não para o Recreio dos Bandeirantes”

Mauro Osório - Professor na UFRJ

Fonte: http://odia.ig.com.br/noticia/observatorio/2014-08-17/urbanismo-aliado-ao-transporte-propoe-remodelar-bonsucesso.html




"Estamos privilegiando uma zona da cidade já privilegiada, estimulando ainda um aumento histórico da especulação imobiliária. De quem são os interesses por trás disso? O (prefeito) Eduardo Paes foi subprefeito da Barra e todos os interesses econômicos da reigão estão por trás dele"


Christopher Gaffney - especialista no legado urbano de grandes eventos esportivos

Fonte: http://www.cartacapital.com.br/sociedade/copa-do-mundo-e-olimpiada-investimento-publico-lucro-privado




"Pelo projeto Rio 2016, a Barra concentrará a maior parte dos equipamentos esportivos e a própria Vila Olímpica. Isso pode significar que o restante da cidade, especialmente os bairros do subúrbio, onde estão os maiores problemas de infraestrutura, poderão continuar como os grandes esquecidos pelo poder público, apesar das Olimpíadas?

Sérgio Magalhães: Os recursos serão muito importantes. Mas, se forem dirigidos prioritariamente para a Barra, a cidade vai sofrer muito. E a grande mudança que uma Olimpíada pode trazer vai ser minimizada porque o conjunto da população terá menos oportunidades do que teria, por exemplo, se os Jogos Olímpicos se concentrassem na área portuária. O Porto, agora, está disponível. Quando as Olimpíadas foram programadas, não havia o acordo entre os três níveis de governo. Os terrenos do Porto estavam impossíveis. Isso mudou. "

Sérgio Magalhães - presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil

Fonte: http://www.oabrj.org.br/noticia/59264-em-entrevista-urbanista-critica-concentracao-de-recursos-das-olimpiadas-na-barra-da-tijuca




"Ferreira explorou também a escolha da Barra como coração dos jogos olímpicos de 2016, com a construção de locais como a Vila Olímpica e Paraolímpica e a Vila de Mídia, entre outros investimentos. "Para fazer o projeto, o Comitê Olímpico pegou o que seria mais fácil para ganhar o concurso, a Barra", disse Ferreira, referindo-se à candidatura da cidade junto ao Comitê Olímpico Internacional. Mas assim, ponderou, "o legado vai para os lugares mais ricos da cidade. A cidade deveria ter definido que a Olimpíada só deveria ser aqui se e somente tivesse um legado para a cidade". Contestação, admitiu Ferreira, que deveria ter sido feita à época da elaboração do projeto: "Nós, arquitetos, somos culpados, pois não falamos nada na época". Em Londres, o centro das Olimpíadas foi no East End, região degradada que se beneficiou dos grandes investimentos proporcionados pelos jogos "

Flavio Ferreira - professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU)

Fonte: http://www.iets.inf.br/article.php3?id_article=2022



“As Olimpíadas, com seus BRT’s direcionados para a Barra da Tijuca e com a totalidade de seus equipamentos habitacionais na própria Barra, além da maioria dos esportivos, contrariam frontalmente a posição dos arquitetos do Rio de Janeiro e as últimas tendências internacionais: as Olimpíadas, ao invés de democratizar a cidade torna-a mais elitista.”

Flavio Ferreira - professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU)

Fonte: http://www.iab.org.br/noticias/especialistas-criticam-mudanca-da-vila-de-midia-e-arbitros


Londres: uma referência?


Londres, sede das Olimpíadas de 2012, também aproveitou a ocasião para regenerar de forma social, ambiental e física de uma de suas últimas reservas de terrenos: uma área industrial abandonada e degradada no distrito de Stratford,região leste da capital.

http://www.urbansystems.com.br/reports/ler/olimpiadas-o-legado-de-barcelona-a-experiencia-de-londres-e-as-perspectivas-para-o-rio-de-janeiro

Ao contrário de Londres, onde a hospedagem dos atletas deu lugar a moradias acessíveis numa área revitalizada da capital britânica, no Rio os prédios seguirão a lógica do alto padrão, com direito aos "Jardins do Rei", com mais de 70 mil metros quadrados, e apartamentos que podem valer mais de R$ 1 milhão.

http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/08/150809_construtora_olimpiada_jp



Se em Londres optou-se por resgatar um região industrial abandonada, e no Rio havia a Lei abaixo decretada pelo próprio Prefeito que referencia o que foi feito em Londres:




Lei Complementar n.º 116 de 25 de abril de 2012.


Cria a área de especial interesse urbanístico da Avenida Brasil, define normas para incremento das atividades econômicas e para reaproveitamento de imóveis em áreas das zonas industriais e ao longo de corredores viários estruturantes da AP-3 e da AP-5 e dá outras providências.

Autor: Poder Executivo

O PREFEITO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, faço saber que a Câmara Municipal decreta e eu sanciono a seguinte Lei Complementar: 

Art. 1º A ocupação urbana no Município se orientará segundo os vetores de crescimento abaixo relacionados e já definidos nos incisos I, II, III e IV do art. 33 da Lei Complementar nº 111, de 1º de fevereiro de 2011 – Plano Diretor da Cidade:

I – pelo adensamento da população e das construções preferencialmente nas vias estruturadoras da Zona Norte; 

II - pela reconversão de edificações;
III - pela ocupação de vazios urbanos;
(...)


Fonte: http://www2.rio.rj.gov.br/smu/buscafacil/Arquivos/PDF/LC116M.PDF

Porque o discurso foi diferente da prática e a própria Lei emitida foi ignorada???



Sinal verde para revitalização da Avenida Brasil




Ficou só no texto, ainda em 2011:


http://extra.globo.com/noticias/rio/sinal-verde-para-revitalizacao-da-avenida-brasil-1821920.html


Mesmo com o  Plano Estratégico da Prefeitura do Rio de Janeiro 2009 - 2012 tendo este diagnóstico:
"Há um grave desequilíbrio no nível e dinamismo econômico entre as diversas regiões da cidade (Barra x zona da Leopoldina, por exemplo). A carga tributária excessiva, as barreiras burocráticas (abertura/ fechamento de empresas, licenciamento ambiental, pagamento de impostos), os índices de criminalidade, a falta de investimentos em infraestrutura e o desrespeito aos direitos de propriedade e às regras de mercado são os principais obstáculos para o crescimento econômico da cidade."

http://www.riocomovamos.org.br/arq/planejamento_estrategico.pdf

Esqueceram a zona da Leopoldina.